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Foto: Divulgação |
A infância marcada por lápis, papel e um filme da Disney. Tudo começou no cinema. Quando criança, Walison Eça foi levado pelo pai para assistir Tarzan, da Disney. A cena que ficou gravada em sua mente não foi apenas a aventura da selva, mas a forma como a mão do personagem havia sido desenhada. “Aquele detalhe anatômico me fascinou. Quando cheguei em casa, desenhei a mão de cabeça, apenas com a lembrança”, relembra.
Surpreso, seu pai comprou uma revista sobre anatomia humana para incentivar o talento do filho. Foi o ponto de partida para que Walison mergulhasse no mundo do desenho realista. Aos 9 anos, já passava horas estudando proporções, sombras e texturas. A infância foi o berço não apenas da sua habilidade, mas de sua disciplina em perseguir a excelência.
Influências e formação entre arte e tecnologia
Enquanto muitos adolescentes buscavam passatempos, Walison se destacava na escola pela habilidade em artes. Suas inspirações vinham das animações da Disney, dos mangás e dos quadrinhos. Essa mistura o levou a desenvolver um olhar técnico para a anatomia e uma paixão pelo realismo.
A escolha da faculdade foi um marco. “Optei por design gráfico porque queria unir arte e tecnologia. Era o auge da computação gráfica, e eu via ali a chance de digitalizar minha arte”, conta. O passo seguinte foi um curso de computação gráfica e modelagem 3D, que lhe deu ferramentas de um mundo que, inicialmente, parecia conduzi-lo para a animação profissional.
Mas o destino o levaria para outro caminho: a tatuagem. O que começou como curiosidade se tornou vocação. A transição não foi imediata. Durante dois anos, Walison conciliou a rotina de designer com os primeiros traços na pele. Quando percebeu que suas tatuagens já lhe traziam mais retorno do que o trabalho fixo de oito horas, tomou a decisão. “Não foi fácil, mas era o que eu amava. Investi tudo em cursos, workshops, professores, e mergulhei no realismo na pele.”
O realismo como assinatura
Seja em preto e cinza ou em cores vibrantes, o realismo é a marca registrada de Walison Eça. O que o diferencia, porém, é sua busca obsessiva pela fidelidade fotográfica: “Meu trabalho tem mais contraste, mais textura. Quero que a tatuagem se aproxime ao máximo de uma fotografia.”
Esse estilo não é apenas estética. Para Walison, cada traço é carregado de sentido, e cada cliente leva para casa mais que um desenho: leva uma narrativa eternizada na pele.
Quando a arte transforma vidas
Entre centenas de histórias, uma delas mudou para sempre a forma como Walison encara seu trabalho. Um cliente, insatisfeito com uma tatuagem antiga, buscou cobertura. Inicialmente, Walison recusou: não acreditava que o resultado seria satisfatório. Mas o cliente insistiu e revelou seu drama — havia passado 15 anos evitando tirar a camiseta na praia por vergonha.
“Ele me contou que até com a família usava manga longa para esconder os braços. Isso afetava sua autoestima, sua vida social e até sua felicidade com o corpo”, lembra o artista. Sensibilizado, Walison aceitou o desafio. Depois de sessões intensas, a transformação não foi apenas visual. O cliente voltou com fotos sorrindo na praia, ao lado das filhas e da esposa, finalmente livre.
“Entendi que meu trabalho não é só sobre estética. É sobre devolver dignidade, confiança e alegria. Hoje, dificilmente recuso uma cobertura, porque sei o impacto que pode causar”, afirma.
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Foto: Divulgação |
Tecnologia a serviço da tatuagem
A bagagem em computação gráfica encontrou terreno fértil na arte da pele. Antes de muitos imaginarem, Walison já aplicava técnicas de 3D em seus projetos. Primeiro, com modelos genéricos de braços e bustos. Depois, com um salto ainda mais ousado: capturas 3D dos próprios clientes.
“O cliente se vê com a tatuagem pronta antes mesmo da primeira agulhada. Isso dá segurança, evita arrependimentos e transforma a experiência. Muitos dizem: nunca vi um tatuador como você.”
Essa inovação fez de Walison um pioneiro em unir tatuagem e tecnologia, mostrando como a arte pode dialogar com as ferramentas digitais para criar experiências únicas.
Fé como atmosfera criativa
Ao contrário de muitos tatuadores, Walison evita convenções tradicionais da área. Prefere preservar um ambiente que, para ele, é essencial: um espaço de fé e inspiração. Antes de tatuar, costuma orar com os clientes.
“A fé é a base de tudo. Dá sentido ao que faço. Cria uma atmosfera diferente, de confiança, esperança e propósito”, afirma. Essa postura já o levou a eventos cristãos e encontros de empresários, onde sua pintura ao vivo marcou momentos especiais. Em uma conferência de mulheres, por exemplo, pintou um quadro representando amor e cuidado paternal. “Foi um divisor de águas na minha trajetória artística”, recorda.
Família, inspiração e legado
Por trás do artista, há uma rede de apoio que sustenta sua caminhada. Seus pais foram os primeiros incentivadores, mas foi sua esposa quem acreditou no início da carreira como tatuador — chegando a comprar o primeiro kit de tatuagem.
Hoje, suas maiores fontes de inspiração são as filhas, Olívia e Isabel, que compartilham o gosto pelo desenho. “Elas têm ideias criativas que me desafiam. Muitas vezes, desenho o que pedem, e isso amplia minha imaginação.”
Com a família como base, Walison segue olhando para frente. Sonha em pintar grandes murais com mensagens de esperança e em ensinar outros artistas a alcançarem excelência.
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Foto: Divulgação |
Uma missão que vai além da arte
Seu lema reflete sua filosofia de vida: “Eu olhei para o meu futuro, gostei do que vi, e estou correndo para lá.”
Para ele, a tatuagem é mais que um registro estético. É uma ferramenta de transformação, memória e legado. “Se você quer transformar sua história, eternizar algo que vale a pena ser lembrado, faça disso uma obra de arte na sua pele. O que não é celebrado, cai no esquecimento.”
Walison Eça não é apenas mais um tatuador. É um artista que carrega nas mãos o poder da técnica, da tecnologia e da fé. Alguém que não apenas desenha, mas ressignifica, cura e inspira.