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Como a alimentação pode estar relacionada com o câncer?

25 de Setembro de 2025

Entenda os impactos de uma alimentação inadequada e como hábitos saudáveis podem prevenir a doença

Foto: Freepik

A alimentação inadequada é responsável por até 20% dos casos de câncer em países em desenvolvimento, como o Brasil, e cerca de 35% das mortes pela doença. Os dados são do Instituto Nacional de Câncer (Inca), que afirma que esta é a segunda maior causa evitável da doença, atrás somente do tabagismo.

Um dos principais motivos desse problema é o consumo de alimentos ultraprocessados, como hambúrgueres e massas congeladas, nuggets, salgadinhos de pacote e embutidos. O Ministério da Saúde destaca que eles são pobres em fibras, consideradas fundamentais para a prevenção de doenças crônicas, incluindo o câncer. 

Segundo a nutricionista e tecnologista da área técnica de alimentação, nutrição, atividade física e câncer do Inca, Maria Eduarda Leão, algumas técnicas usadas durante o processamento de alimentos, com a finalidade de melhorar a preservação ou realçar sabor, podem favorecer o surgimento da doença. “Temos como exemplo as carnes processadas, presunto, salsicha, linguiça, bacon, salame, mortadela, peito de peru e blanquet de peru”, destaca. 

O sobrepeso e a obesidade, frequentemente causados por uma alimentação desequilibrada, também aumentam as chances de desenvolver, pelo menos, 12 tipos de câncer, segundo Leão. Entre eles estão alguns dos mais incidentes no país, como o de mama na pós-menopausa e o câncer de cólon e reto.

As substâncias presentes na fumaça do processo de defumação e os conservantes, como os nitritos e nitratos, também adicionados durante o processamento, juntamente com o sal, podem provocar o surgimento de câncer de intestino”, acrescenta a especialista.

A urgência de prevenir esse tipo de câncer está relacionada ao seu alcance. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ele representa cerca de 10% de todos os casos de câncer do mundo, sendo o segundo que mais mata, atrás somente do câncer de pulmão. 

Entre os sinais do câncer de cólon e reto estão: sangue nas fezes, alterações no hábito intestinal, desconforto abdominal, perda de peso inexplicada e fezes mais finas do que o habitual, conforme informações do Ministério da Saúde.

As carnes vermelhas, quando consumidas por excesso, também podem facilitar o desenvolvimento do câncer colorretal. Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, elas contêm grande quantidade de ferro heme, que apesar de ser um nutriente importante, em excesso pode fazer mal. Por isso, a orientação é consumir ao máximo 500 gramas (cozidas) por semana. 

Leão explica que a má alimentação também é associada a diferentes tumores por estudos científicos, sobretudo os desenvolvidos no sistema digestivo, o que inclui boca, esôfago, estômago, faringe, laringe, pâncreas e fígado.

Por outro lado, uma alimentação saudável, rica em alimentos de origem vegetal, pode reduzir o risco de desenvolver a doença, conforme o Inca. Para isso, é importante que a dieta seja balanceada, respeitando as preferências alimentares regionais e proporcionando uma alimentação nutritiva, saborosa e mais acessível.

Entre os principais alimentos recomendados para a prevenção do câncer estão:

  • frutas;

  • verduras e legumes;

  • leite;

  • ovos;

  • peixes e carnes magras;

  • cereais integrais; 

  • castanhas;

  • feijões e leguminosas;

  • tubérculos e raízes.

Alimentação deve ser prioridade durante tratamento oncológico

Além de prevenir o câncer, manter uma alimentação saudável é considerado indispensável para pacientes em tratamento oncológico. No caso de pacientes com câncer de próstata, por exemplo, a radioterapia é um dos tratamentos mais comuns, mas seus efeitos colaterais podem afetar o sistema digestivo, causando diarreia, náuseas e desconforto abdominal. 

Pensando em minimizar esses sintomas e fortalecer o organismo durante o tratamento, a Oncologia D’or recomenda que os pacientes mantenham uma dieta rica em fibras e proteínas magras. Alimentos como linhaça, aveia vegetais de folhas verdes e frutas como pera e maçã podem ajudar a regular o intestino e aliviar os desconfortos gastrointestinais.

Além disso, o licopeno, encontrado em alimentos como tomate, goiaba, melancia e toranja, tem propriedades anti-inflamatórias que beneficiam a saúde da próstata, ajudando a reduzir a inflamação e a proteger as células saudáveis. Cozinhar o tomate aumenta a biodisponibilidade do licopeno, conforme explica a Oncologia D’or, potencializando seus efeitos benéficos.

Para quem faz quimioterapia, o cuidado com a alimentação também é fundamental. O tratamento pode gerar náuseas e vômitos, além de afetar o apetite. Por isso, a orientação é priorizar alimentos de fácil digestão, como frutas frescas, biscoitos simples e refeições leves, além de evitar temperos fortes, como pimenta e mostarda.

O gengibre também é um alimento apontado como aliado na redução de náuseas, já que é rico em antioxidantes, como o 6-gingerol, e tem demonstrado benefícios durante a quimioterapia. Também é importante garantir a ingestão de vitaminas e minerais essenciais, como vitamina A, vitamina D, ferro e vitamina B12, que podem ser necessários em maiores quantidades durante o tratamento.

A Oncologia D ‘or lembra, ainda, que pacientes com câncer devem conversar com seus médicos ou nutricionistas para adequar a dieta a suas necessidades particulares. Os especialistas vão determinar a quantidade correta de cada nutriente ou vitamina, assim como dar melhores explicações sobre como funciona a quimioterapia, a radioterapia e outros tratamento.

Bebidas muito quentes devem ser evitadas

Segundo a Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC), o consumo de bebidas a temperaturas superiores a 65°C é considerado "provavelmente carcinogênico para os humanos", conforme destaca o Ministério da Saúde. O risco está relacionado à exposição da mucosa do esôfago a altas temperaturas, o que pode causar lesões e danos às células da região. 

O esôfago funciona como um tubo que liga a garganta ao estômago e, de acordo com o Inca, o câncer neste órgão é o sexto mais frequente entre os homens no Brasil e o 15º entre as mulheres, exceto os casos de câncer de pele não melanoma. Mundialmente, ocupa o oitavo lugar em termos de incidência.

O consumo regular de mate quente, especialmente o chimarrão, é um dos principais fatores associados a esse tipo de câncer, tendo em vista que a bebida é tradicionalmente ingerida em temperaturas extremamente altas, o que pode causar danos diretos ao esôfago. 

A recomendação é que ele seja consumido a uma temperatura inferior a 60°C. Para isso, é aconselhável desligar a chaleira quando começar a formar bolhas e esperar pelo menos cinco minutos antes de consumir.

Já o café e os chás, segundo o Ministério da Saúde, não oferecem os mesmos riscos, levando em conta a forma como são consumidos. Enquanto o chimarrão é ingerido através de um canudo metálico, o que faz com que a bebida atinja diretamente a parte posterior da garganta e do esôfago, café e chá são geralmente consumidos em copos ou xícaras.

Sendo assim, antes de ser engolido, o líquido entra em contato com os lábios, língua e cavidade oral, que atuam como uma barreira natural de proteção antes que a bebida atinja o esôfago.

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