Cultura - Teatro

No teatro, A Reação leva público ao êxtase pela qualidade cênica e textual

13 de Dezembro de 2015
 
Elenco da peça A Reação, em cartaz no Teatro Vivo SP (Foto: Divulgação)

A existência humana é – e sempre foi, desde a época da Grécia antiga – objeto de vários estudos científicos que buscam explicações para a causa de sentimentos, instintos e, principalmente, condições fisiológicas que influenciam no que somos. Esse é o ponto central da peça A Reação, que está em cartaz no Teatro Vivo (SP) e integra o projeto cultural Vivo EnCena. O elenco é composto por André Bankoff, Isabella Lemos, Clara Carvalho e Rubens Caribé, igualmente importantes ao longo do espetáculo, que tem a seu favor efeitos de áudio e projeção para cada espectador imergir no universo da neurociência.

O texto, original da escritora inglesa Lucy Prebble, gira em torno do galã Tristan (André Bankoff) e de Connie (Isabella Lemos), estudante de Psicologia; o primeiro é cristão e a segunda, ateia. Os dois participam – por livre e espontânea vontade – de uma pesquisa que envolve o uso de remédios antidepressivos. Todo o processo é supervisionado por Dra. Lorna (Clara Carvalho) e Dr. Thomas (Rubens Caribé), com visões diferentes e extremas: ela defende as técnicas de psicoterapia; ele, o uso de remédios, bastante influenciado por fatores econômicos – senão, totalmente. Tristan e Connie se envolvem num romance proibido (pelas circunstâncias) e incerto, sem saber se tudo é espontâneo ou algo causado pelas substâncias do remédio ingerido.

 
Clara Carvalho e Rubens Caribé (Foto: Divulgação)

Durante entrevista, a atriz Clara Carvalho disse que é a favor do uso de medicamentos e ressalta a necessidade do auxílio médico. “O remédio ajuda quem está realmente com depressão, e isso é importante. Mas na realidade é muito difícil de estabelecer e descobrir se uma pessoa está em depressão ou apenas triste, por causa de algum momento da vida. Ela tem que passar por isso sozinha. A depressão realmente existe e é um estado tão negativo em que o pensamento se processa contra a própria pessoa. Estado esse que precisa de auxílio químico, aliado a um médico competente e parceiro”, comenta Clara, que assina a tradução de texto e direção da peça.

Sobre o seu personagem, aparentemente “antiético”, Rubens Caribé defende a postura de Thomas. “Eu não o resumiria a um vilão porque ele está bem intencionado e acredita na eficácia dos remédios antidepressivos, utilizando vários argumentos para provar isso. Na peça, os personagens são um pouco tendenciosos. Tanto a Lorna, em favor da psicoterapia, quanto ele, em favor da medicação química. Isso é mais uma astúcia da dramaturga Lucy, que usa esses dois pontos de vista para discutir a questão sem tomar partido e deixa no ar para o público”, pontua. Rubens e Clara tiveram um preparatório intenso, com pesquisas sobre remédios, pontos de vista da medicina, visitas a blogs e conversas com psiquiatras.

 
(Foto: Reprodução/ Instagram)

Isabella Lemos, também produtora de A Reação, fala sobre a real proposta da trama. “É muito bacana a forma que a peça levanta essa discussão: uma forma de amor autêntica, que é apenas uma ilustração e um ponto de partida para discutir a ‘quimicalização’ dos sentimentos. O texto sugere algo singelo, uma comédia romântica, mas vai muito além disso. Discute o mal do século, que é a depressão, e o uso banal dos remédios. É um assunto importante e ainda não havia nada parecido no teatro, apenas filmes a respeito”, explica. Sobre a relação cênica com André Bankoff, a atriz revelou que a “química bateu” no primeiro encontro. “O André foi a nossa primeira opção porque, além dele ter o perfil físico do personagem, ele tem brilho no olhar e a entrega que o Tristan necessita”, conta.

André Bankoff, no decorrer dos acontecimentos, mostra que é muito mais do que o chamado “rostinho bonito” do show business e foge do convencional, surpreendendo a todos pela versatilidade a cada mudança de humor de Tristan – um dos pontos mais fortes de toda a peça. “O Tristan é muito instigante e apaixonado pela vida. Ele me levou a outro caminho que ainda não havia experimentado. A Clara [diretora] nos deu liberdade durante os ensaios e vários detalhes surgiram do improviso”, comenta. Quem for ao Teatro Vivo pode se divertir também com um número de dança – André fez aulas de sapateado por um mês, especialmente para a peça – e também cenas mais calientes do casal protagonista.

O ator deixou bem claro o que pensa sobre o tema. “Do meu ponto de vista, nem tudo é depressão. Hoje vivemos em uma sociedade na qual devemos obrigatoriamente ser felizes, 24 horas por dia. Mesmo se você leva um pé na bunda [sic], é demitido, perde algum ente querido... Se a pessoa permitir, toda essa pressão contribui para um estado depressivo mais grave”, finaliza.

 
O quarteto dá conta do recado e envolve a plateia (Foto: Reprodução/ Instagram)

A Reação é uma excelente pedida para o público que deseja não apenas um mero entretenimento, mas também questionar a si mesmo enquanto ser racional, biológico e emocional. Não perca tempo, pois a peça encerra a temporada na próxima semana, no dia 20 de dezembro.

Informações extras

Com produção de Selene Marinho/ Radar Cultural, o espetáculo A Reação (90 min.) é recomendado para maiores de 16 anos e acontece na sexta-feira (21h30), sábado (21h) e domingo (18h), no Teatro VIVO, que está localizado na Avenida Dr. Chucri Zaidan, 860, Morumbi. Os preços variam de R$ 30 (sexta e domingo) a R$ 40 (sábado), e os clientes da Vivo Valoriza têm 50% de desconto. Para mais informações, entre em contato (011 97420 1520).

Por Marcos Martins (@MarcosMartinsTV)

Comentários
Assista ao vídeo