Colaboradores - Valéria Calente

RELAÇÕES ABUSIVAS II

2 de Outubro de 2017
JUSBRASIL

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O que é um relacionamento abusivo?

Sendo bastante objetiva, é um relacionamento em que uma pessoa exerce controle sobre a outra.

Os relacionamentos abusivos são movidos por insegurança, tanto do abusador quanto do abusado.

A pessoa que é vítima do abuso geralmente não enxerga a situação ou simplesmente se recusa a admitir que sua pessoa amada seja um agressor abusivo. O fator que ajuda a mascarar essas variações é o caminhar continuo, um passo por vez. Esses passos ocorrem de forma sutil e disfarçada, dia após dia.

O rompimento do ciclo passa pela aceitação da vítima de que está em uma relação doentia e pela vontade e determinação de livrar-se do que a prende a isso.

Muitas pessoas não conseguem sair desse namoro/casamento/situação e os motivos são os mais diversos: medo da reação da outra pessoa, medo de ficar sozinha, esperança de que a pessoa vai mudar.

Os sentimentos envolvidos são conflitantes, uma vez que a vítima acredita que ama o agressor. Entretanto, o amor não suporta o sofrimento constante. Quando o agressor abusa de você, essa atitude é a maior prova de que o amor não é recíproco.

Amor não sufoca, não controla, não humilha, não abandona, não machuca, não faz pressão psicológica, não ameaça, não agride, não mente. Isso é abuso, amor é outra coisa.

O relacionamento pode ser abusivo de inúmeras formas, e o que mais importa é o sentimento da vítima: se você tem medo da pessoa com quem se relaciona, se você evita dizer ou fazer certas coisas com medo da repercussão, ou sente que está presa numa situação sem saída, o relacionamento é abusivo, e o melhor a fazer é sair.

Por que as mulheres sentem tanta dificuldade em sair de um relacionamento abusivo?

Segundo o livro de John Shore, Seven Reasons Women Stay in Abusive Relationships (and how to defeat each one of them)1, as razões mais comuns pelas quais as mulheres mantém um relacionamento abusivo são:

Razão 1: o medo de recriar sua identidade.

As mulheres que estão em um relacionamento abusivo, geralmente são muito dependentes  da pessoa que está em sua vida. Ela volta seu eu em torno do outro. A partir do momento que esse outro não existir mais, ela terá de se voltar a si mesma e, por mais que quem vê de fora acredite ser a melhor coisa, para a vítima não é. John diz que quando uma vítima desse tipo de situação decide dar um basta, é uma espécie de cura não somente para si mesma, mas também para todos aqueles que estão ao seu redor. Eis os motivos: a) serve de encorajamento ao próximo; b) é uma forma de refutar a imagem da mulher como um modelo padrão de vitimização; c) mostra à pessoa agressora que seu comportamento não é aceitável; d) tira a vítima da eterna esperança de que ela pode mudar a pessoa agressora pois é algo que dificilmente vá acontecer; e) você só tem uma vida, não a desperdice com quem te faz mal, reaja; f) você está no controle da sua vida, a escolha é sua, percorrer o caminho doloroso de salvar a si mesma ou sofrer até morrer ao lado de uma pessoa que te abusa.

Razão 2: medo do desconhecido.

Algumas mulheres não querem trocar o certo pelo duvidoso, ainda que o “certo” seja errado. Há quatro motivos principais para esse medo acontecer: a) poderia ser pior; b) não estar habituada a ficar sozinha; c) medo de nunca mais achar outra pessoa; d) medo de não se manter financeiramente. Poderia ser pior ficar sozinha? Absolutamente não. Sabe o ditado “antes só do que mal acompanhada”? Maior verdade. Não fique tentando pesar prós e contras, pois se você teve de chegar a esse ponto, provavelmente é porque não vale a pena. Se valesse, você já saberia de cara, sem precisar pensar se aquele sábado que a pessoa te tratou tão bem e te comprou flores não compensa a humilhação que te faz passar no domingo quando você deu um abraço em um amigo de longa data na rua. Se o medo for de nunca mais arrumar outra pessoa, saiba que você não precisa de ninguém. Simples assim. A sua felicidade tem que vir de você mesma. E jamais se mantenha em uma situação de abuso por medo de não ter dinheiro suficiente. Recorra aos familiares, amigos, procure um emprego melhor, faça qualquer coisa, porque qualquer coisa é melhor do que ser maltratada.

Razão 3: vergonha dos outros.

O que é esse medo? É aquele pavor básico que algumas mulheres sofrem de admitir para a família e amigos que seu relacionamento não foi bem sucedido. Ninguém vai estar lá para tomar seu lugar nessa relação abusiva.Portanto, você não deve nada a ninguém.

Razão 4: pressão de ser como os seus pais.

Seus pais casaram aos 18 anos, tiveram 4 filhos, estão casados há mais de 30 anos e são felizes. Os valores da família, do sagrado casamento, foram ensinados a você desde pequena e você quer segui-los, você quer ser a filha que foi criada para ser. Então você não se divorcia porque precisa ser forte, o padre disse “até que a morte os separe”, certo? Certíssimo… isso só está custando a sua vida. Você não é a cópia dos seus pais, você não tem que repetir padrão algum. Se seus pais estão felizes casados há tanto tempo, faça a si mesma o favor de tomar como inspiração e procurar alguém que te faça feliz. Casamento por si só não significa nada. Mulher completa não precisa de uma aliança no dedo, precisa é ser feliz.

Razão 5: você ama as características amáveis que a pessoa tem.

Se amor fosse simples, já teriam esgotado os roteiros de filmes. Amor é coisa complicada mesmo. A pessoa te agride emocionalmente, mas é “só” de vez em quando só e poxa, você ama o jeito que ela fala, você ama os abraços, vocês têm uma ótima química no sexo. A pessoa vale a pena. Só tem esse probleminha, mas… né. Por amor, tudo vale a pena. BEEEEEEP. Errado. Por amor só vale o amor. Agredir não é amor, é violência. Humilhar, xingar, ameaçar não é amor. Amor de uma via só não sustenta um relacionamento. Desculpa, eu sei que você ama aquela pessoa, mas lamento informar que não é reciproco. Quem ama cuida, quer ver o bem do outro. Clichê, mas verdade.

Razão 6: não acreditar que a pessoa é assim.

Muitas mulheres não enxergam que o comportamento abusivo faz parte da personalidade da pessoa. É quem ela é. Não é um vírus que é acionado quando a pessoa fica muito muito irritada e toma conta dela, como se ficasse inconsciente e o mal a possuísse. A pessoa é responsável pelas agressões e abusos

Razão 7: a pessoa mente;

Diz que vai mudar, diz que nunca mais vai acontecer, diz que não sabe o que deu nela, pede desculpa, se transforma na pessoa mais amorosa do mundo nos dias seguintes até que age abusivamente mais uma vez. É um loop eterno. A pessoa não vai mudar, justamente pelo exposto na razão nº 6: a pessoa é assim. Quanto mais cedo você aceitar isso, menos lesada sairá desse relacionamento tóxico.

 

Esteja atenta (o) e não tenha ilusões.

Essa relação não vai melhorar.

 

VALÉRIA CALENTE

valcalente@adv.oabsp.org.br

 

1) Imagem: JUSBRASIL

https://advocaciafamilia.jusbrasil.com.br

 

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