Colunistas - André Garcia

Carnaval 2018: Viajando pelo Sul de Kawasaki Ninja 1000 Tourer

20 de Março de 2018

 

Hospitaleira Santa Catarina tem belezas inesquecíveis

Portal de Joinville. Fotos: André Garcia

Eis que na semana que antecede o carnaval pego para avaliação a Kawasaki Ninja 1000 Tourer, uma sport-touring que exige rodar muito para formar opinião.

Todas as previsões do tempo davam, como certeza absoluta, muita chuva no sudeste. Todos os possíveis lugares que pensei, a previsão era de muita chuva.

Destinos como Minas Gerais e serras do Rio de Janeiro ficam para uma próxima oportunidade. Rumei novamente para o sul do Brasil, cidade de Joinville.

Portal é lindo, mas poste em lugar errado

Passei por anos por Joinville e nunca tinha parado. Grande perda de tempo, pois a cidade é incrível: hospitaleira, limpa, gastronômica e oferece museus, de passeio de barco à caminhada que resultam na contemplação de visuais incríveis.

O bacana de  escrever sobre motos é a possibilidade de sempre ter amigos na cidade visitada. Quando definia o local, sondei dois amigos da região, se estariam por lá. Reservei o hotel, arrumei a tralha e fui embora.

Para quem utiliza Android, o caminho vai sendo registrado

Sai de São Paulo, na quinta-feira por volta das 14:30 hs rumo a Joinville e apesar da surpresa com a Serra do Cafezal já duplicada, a pista sentido Sul estava com o asfalto muito ruim, trânsito intenso com muitos caminhões e automóveis com famílias rumando para o final de semana prolongado. Foi o trecho mais demorado, rodei 154 km em duas horas e dezesseis minutos, mas não estava com pressa.

Dica de parada: Graal Buenos Aires em Registro, é menos lotado que o  Fazendeiro que fica em Miracatu logo pouco depois da Serra do Cafezal.

Há quem não goste de pilotar na BR-116 indo ou vindo do sul. Eu gosto! retas, curvas, trechos de serra em aclive e declive, mas tudo está nas suas mãos. Se andar com a razão ao invés da emoção, tudo fica tranquilo. Caminhão deu seta, deixe entrar, pense que o gigante está carregado, se não for dos caminhões novos, uma mudança de marcha para o caminhoneiro representa, muitas vezes, uma hora a mais de viagem.

Seja gentil. Nem é necessário usar freios, só desacelerar. Mantenha-se à esquerda que ele vai te deixar passar. E em um piscar de olhos, você sumiu.

Paisagem fica atrás do Portal de Joinville. Ótimo para caminhada

A segunda parada, depois de 177 km em, exatos, uma hora e meia, foi muito mais estratégico, enchi o tanque da Ninja, bebi água e pau...verdadeiro pit stop de no máximo uns 15 minutos.  Explico: o trecho da BR-116 na região de São José dos PInhais tem poucos postos de combustível e o tráfego de caminhões é, ainda, mais tenso. Parei no posto “O Cupim”, Campina Grande do Sul há menos de 30 km de Curitiba, porque na descida de serra para Joinville não tem postos e aqueles que tenho confiança ficaria depois de Joinville.

Joinville nasceu de um projeto de colonização na metade do século XIX, quando foi assinado um contrato entre o príncipe (François Ferdinand Philippe - da comuna francesa Joinville-le-pont) e a princesa(Francisca Carolina, filha de D.Pedro I) com a Sociedade Colonizadora de Hamburgo, Alemanha, cedendo 25 léguas de terras que faziam parte do dote da princesa. O primeiro grupo de imigrantes chegaram em março de 1851, após dois meses de viagem no navio Colon. Dos 124 passageiros embarcados, 7 morreram durante a viagem. Em 1852 em homenagem ao príncipe, a cidade passou a denominar-se Joinville. Diz a história, que a cidade jamais foi visitada pelos príncipes.

Cheguei no Holz Hotel por volta das 20:30 horas. Guardei a moto  na garagem que fica no subsolo, estacionamento não cobrado.

Escolhi o Holz Hotel muito mais pela excelente localização do que pela excelente avaliação que tem no Booking.

Mas, realmente, além do bom custo-benefício, é simples, confortável e muito bem limpo.

Se na recepção, no check-in faltou um pouco de atenção para ajudar com as malas, o pessoal da cozinha e restaurante foram nota 10. Enquanto tomava banho, chegou uma sopinha quentinha e deliciosa no quarto.

No dia seguinte, café da manhã, um bom papo com a nutricionista do hotel e pessoal da cozinha, já que infelizmente, como celíaco, quase nada pude comer daquela deliciosa mesa posta do tradicional café colonial oferecido no sul do Brasil.

Traçado o roteiro para visitar alguns museus, especialmente do Bombeiro, estação de trem e Morro da Boa Vista, sai de moto e parei no principal cartão postal da cidade, logo na entrada, saindo da BR-101.

Segunda parada foi na loja da Touratech para conhecer a sede, já que sempre estou na filial São Paulo para bater papo e assistir palestras. Conheci o Manolo, gerente da loja, depois de água, café, e muita conversa, com dicas preciosas, rumei para Morro da Boa Vista.

Touratech é uma empresa de acessórios para motocicletas Big Trail que surgiu nos anos 90, na cidade de Niedereschach, junto à famosa Floresta Negra no sul da Alemanha, fundada por Herbert Schwarz e Jochen Schanz, ambos se conheceram, ao se encontrarem em uma viagem que faziam para África de, óbvio, moto. Daí a criação e desenvolvimento de produtos de qualidade que suporte as mais exigentes aventuras.

Parque da Boa Vista

Entrada do parque. Moto não entra, mas tem bolsão de estacionamento em frente

O parque se encontra em plena mata Atlântica. Logo depois da entrada que faz menção ao Morro da Boa Vista, subindo, a sua esquerda fica o Zoobotânico Joinville, área bem cuidada com muitos marrecos, gansos, patos, aves, macacos...A sua direita a sede de “Joinville Faz Bem”.

Antes de iniciar a subida, placas indicativas de que até o cume, pode ser cansativa para crianças e idosos,  ponto mais alto da cidade com 240 metros acima do nível do mar, a distância é de 2,3 km até a torre onde fica o mirante com visão 360 graus da cidade, onde se pode vislumbrar a Baía da Babitonga, avistar São Francisco do Sul (leste), Itapoá (norte), Guaramirim e Serra do Mar (oeste).

O passeio vale cada minuto, em calçada com bom piso, no frescor da mata, com som de corrente d´água e animais.

Pau Brasil um dos simbolos da nossa mata

Dica: leve garrafa de água e boné para o desprovidos de cabelo, como este que vos escreve.

O último trecho a partir do trecho 13 para 14, a inclinação sai de 17 para 29%, um bom teste físico para o turista.

Já na torre, tem instalados diversos antenas de TV, são cinco lances de escada até o mirante, mas calma...tem um elevador. No mirante além do visual de tirar o fôlego, tem banheiro limpo e um reservatório de água potável geladinha.  

Ainda fiz o passeio pela trilha de cerca de 500 metros, suspensa. Vale a pena.É uma paz incrível.

O que me chamou muito atenção foi a limpeza. Não encontrei nada jogado ao chão, nenhum objeto jogado em meio a mata.

Zoobotânico é boa atração para crianças

Descer todo santo ajuda.

Mas confesso que aquele pique que estava pela manhã ao sair do hotel, já tinha passado e outros pontos turísticos, como museus, estação ferroviária e o passeio de barco pela Baía da Babitonga, decidi que ficaria para outra oportunidade.

Parei na Casa do Capitão, restaurante ao lado do Parque das Orquídeas, na entrada do Morro da Boa Vista, tanto o restaurante quanto o orquidário fazem parte do AJAO - Agremiação Joinvillense e Amadores de Orquídeas.

O restaurante Casa do Capitão oferece comida simples, com valores por quilo, incluso sobremesa. Nota: vai no sagu elaborado com vinho. O restaurante é simples, limpo, mas pode melhorar, achei um pouco largado e podem ter maior cuidado com o buffet. Preço é mais que justo.

Depois de 2,3 Km....

Fui andar pelo Orquidário após o almoço, mas estava fechado, só sendo possível visualizar pela paredes de vidro. Para quem curte a planta é visita obrigatório, pelas variedades.

À noite no Holz um bom jantar que só belisquei carne regado a vinho (Carbenet Savignon) do sul do Brasil e cama.

O visual compensa o exercício físico

Serra da Dona Francisca

No sábado de carnaval, os amigos João Carlos que mora em Joinville e Cristiano que mora em Itajaí, ambos se conheceram no dia, foram me buscar no hotel para uma trip de 300 km.

A Serra da Dona Francisca é uma estrada construída em 1870 para escoar a produção de erva-mate e ligando a colônia com o norte de Santa Catarina e Paraná.

Serra Dona Francisca, silêncio quebrado só pelo som das motos

Parada no mirante é obrigatório para contemplação da serra fechada por mata Atlântica. O silêncio é quebrado pelo som das motos.

Seguimos subindo e passamos por várias cidades até Pomerode onde paramos em uma loja enorme que comercializa automóveis e motocicletas de todos os estilos e cilindradas, a Brych Motos. Já estava fechada, mas deu para bater papo com alguns vendedores e notar que os caras respiram moto.

Parada para contemplação da Serra Dona Francisca, papo e fotinho com os amigos. Foto: Cristiano Bernardi

Nota: lugares lindos, estrada com bom pavimento, muitas paisagens de tirar o fôlego, muitas curvas e longas retas, mas o motociclista deve ficar atento, primeiro com o fato de ser pista simples com sentidos opostos, segundo que não tem área de escape e terceiro que dado a mata e mudança repentina de clima o piso perde aderência, o asfalto fica liso.

As nuvens começaram a preocupar, não pela chuva, mas com características de tempestade.

Paramos para almoçar no Restaurante Maass que fica dentro do Grêmio da Malwee. Servido a la carte, buffet ou por kilo. Interessante que dependendo da opção, utiliza-se uma louça diferente de outra. Comida boa, típica da região contando com o Marreco recheado e a maravilhosa e deliciosa torta de maçã que só pude comer pelos olhos - Apfelstrudel.

Irresistível tirar foto, mas não esqueça que pode gerar multa

Rumamos sentido Blumenau e pegamos a chuva, paramos na Portal Turístico Sul, na entrada de Pomerode,  para equipar-se e aguarda um pouco a chuva torrencial diminuir, que não demorou muito para ficar entre garoa e chuva moderada.

SC-470 é considerada uma das rodovias mais perigosas do país. Passo por ela há mais de 20 anos e não vi uma melhoria sequer. Nas vias de acesso para Blumenau, sempre muito congestionado. De moto ou carro, tenha paciência, não ultrapasse a faixa dupla. O piso é ruim, cheio de buracos, remendos e ondulações e sob chuva, piora.

Cristiano e João Carlos foram parceiros da trip de 300km. Foto: Cristiano Bernardi

Paramos novamente para abastecer as máquinas e o último café no posto a beira da BR-470.

Já na BR-101, Cristiano foi para Itajaí e João Carlos e eu para Joinville por mais 92 km.  

No hotel comecei a arrumar as coisas para o dia seguinte, afinal cruzaria todo o Estado do Paraná para alcançar o Oeste de São Paulo, cidade de Palmital, região de Assis.

Foto embaçada devido a forte chuva que caia em Pomerode

Eis que minha bota da SIDI de uns 10 anos de uso descolou, sobrou para meu amigo João Carlos que me buscou para comprar cola e para jantarmos no shopping onde pude saborear comida japonesa, coisas da cosmopolita Joinville.

No domingo tempo feio, no café da manhã uma surpresa para fechar com chave de ouro a estadia no Holz: um maravilhoso bolo de abacaxi com coco sem glúten. É muito carinho, é muita hospitalidade.

Sai com o céu escuro e subindo a serra que liga Santa Catarina ao Paraná um pouco de chuva. Pouco antes de São José dos Pinhais grave acidente, só moto passando e fui embora para mais 570 km que foi o total percorrido em 7 horas de viagem.

Santa Catarina é excelente para motocar. Quero voltar de Trail para trechos de terra

Digno de nota é o verdadeiro assalto que cometem contra o motociclista nos pedágios do Paraná. Tem tarifa para moto de R$ 4,00 à R$ 5,40, cerca de três ou quatro. Sendo o pior, já em Ourinhos no Estado de São Paulo com uma tarifa de pouco mais de R$ 10,00. Engraçado que as rodovias foram construídas com dinheiro do contribuinte, repassadas para iniciativa privada para, tão somente, manutenção e cobra-se uma fortuna.

Vida de celíaco não é fácil, mas...

A BR-153 está muito boa, na minha opinião tem excesso de praças de pedágio e a CCR bem que podia criar cabines exclusivas para motocicleta, dado o risco de ficar nas longas filas e a sujeira de óleo na pista da cabine.

...nada como um mimo. Obrigado pela carinho

A viagem alternou entre chuva fraca e nuvens, mas entre Wenceslau Braz e Siqueira Campos, precisei parar para colocar a capa de chuva e trocar a viseira para cristal com pinlock.

Praticamente anoiteceu, a chuva era tão intensa que subia o cheiro do mato e inesquecível  quando passei a meio de uma floresta de eucaliptos cujo aroma é inesquecível.

Leva dinheiro, porque o pedágio no Estado do PR é uma paulada, mesmo para moto

Sensações que só de moto é possível desfrutar.

A viagem acabou em São Paulo dois dias depois. Cheguei na sogra, encontrei com a família e voltei para São Paulo com meu filho do meio na garupa.

 

Volta para casa com o filhote

Assim foi meu carnaval na estrada, com enredo “SC,PR,SP” e uma bateria de 4 cilindros em linha, com 142 cv de potência a 10.000RPM  e 11,3 Kgfm de torque a 7.300RPM, pura usina de força que com a eletrônica herdada da sua irmã ZX-10R campeã do mundo nos últimos 3 anos no WSBK, foi a companhia perfeita para o feriado prolongado.  Leia o teste clicando aqui.  

 

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