Colunistas - Heródoto Barbeiro

Potências dão as cartas

3 de Dezembro de 2018

Por Heródoto Barbeiro *

O Brasil nem foi notado no encontro internacional. Tudo girou em  torno das potências mundiais. Os quatro grandes compareceram para dizer o que queriam e os demais fizeram papel de coadjuvantes. O presidente dos Estados Unidos era esperado com grande ansiedade, afinal era a primeira potência do mundo e ele era conhecido pelas declarações que fazia sobre os destinos da humanidade  e que eram reproduzidos pela mídia mundial. Era, sem dúvida, uma liderança forte e por isso os trabalhos no encontro internacional deveriam ter forte dose de defesa dos interesses dos Estados Unidos. Sua chegada na sede da conferência foi amplamente noticiada e sua foto divulgada mundialmente. Não se sabia exatamente qual era a pauta do encontro, uns diziam que era a busca da paz, outros de acordos comerciais com outras potências, outros ainda um mero exibicionismo das nações mais fortes e ricas. A verdade é que os assessores não tiveram tempo suficiente para formular minutas de acordos para que os chefes de estado assinassem em cerimonias cheias de pomba e circunstância.  O fato é que a reunião estava agendada e os líderes dos quatro grandes confirmados. O que iria sair dali  ninguém se arriscava a prognosticar.

As negociações entre as potencias aliadas e rivais começaram no Ministério dos Negócios onde as nações estavam representadas pelos chefes de estado ou delegados. As reuniões eram extremamente complexas e as negociações conduzidas através de encontros periódicos. Alguns chefes de estado queriam terminar o mais rápido possível a conferência e voltar para casa onde outros problemas internos e externos os aquardavam. Era o caso da Itália com movimentos sociais e reicindicatórios violentos. Assim os encontros progrediram com os cinco grandes dando as cartas, Japão, Itália, França, Grã-Bretanha e Estados Unidos. A participação brasileira estava relagada a um segundo plano e tanto a Inglaterra como a França não concordavam com a participação do Brasil nas conferências preliminares e aceitavam apenas sua participação limitada na conferência plenária, já que  a colaboração brasileira era considera muito pequena. O presidente do Brasil chefiou a delegação brasileira, mas procurou voltar o mais rápido possível. Ele também tinha que cuidar da república sacudida pela disputa entre as oligarquias regionais. A atmosfera política, para variar, era irrespirável.

Era um período de transição presidencial no Brasil, quando tudo ficava às avessas. Epitácio Pessoa foi eleito presidente mesmo  sem estar no Brasil, uma vez que era o chefe da delegação que redigiu o tratado de Versalhes, que pos fim a primeira guerra mundial. Pelo menos foi contabilizada uma vitória tupiniquim. Todos os navios alemães ancorados em portos brasileiros foram confiscados e depois de árdua polêmica na França, os navios foram considerados nacionais e incorporados na frota do Lloyd Brasileiro. Quase saímos de Versalhes apenas com um presidente eleito à distância. Pode parecer inusitado, uma político ser eleito para o cargo mais alto da república sem fazer campanha pessoal e enfrentando um adversário da altura política e moral de Rui Barbosa. Mas na república velha tudo era possível. Epitácio foi o sucessor do vice presidente da república Delfim Moreira, que assumiu o cargo com a morte de Rodrigues Alves. A conferência de Versalhes foi um desastre político e diplomático e uma das responsáveis pelas disputas que se seguiram e jogaram novamente o  mundo em um conflito mundial. Para o Brasil, além dos navios, sobraram a novidade de uma eleição não ocorrer na data tradicional e  com um eleito fora do território brasileiro.

  • Heródoto Barbeiro é editor-chefe e âncora do Jornal da Record News em multiplataforma.
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