Cultura - Cinema

14ªCineBH mostrou que a mistura da arte com a tecnologia tem o poder de criar inquietações inéditas

3 de Novembro de 2020

Ao longo de cinco dias da 14ª CineBH - Mostra de Cinema de Belo Horizonte, o hibridismo se tornou ainda mais evidente e a força das imagens se amplificou no efeito entre a presença do "ao vivo" à distância e o registro mais tradicional de um filme como forma acabada e trabalhada na linguagem

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Tardio entre as artes, o cinema surgiu em 1895 como um fenômeno de aglomeração. Pessoas se dirigiam a pequenos espaços para assistirem, juntas, à magia de imagens em movimento numa projeção. Não havia presença diante dos olhos, e sim ao lado de cada espectador, ocupando o ambiente e compartilhando o sonho. Apesar das várias mudanças dos últimos 125 anos, a experiência do cinema basicamente se manteve a mesma. Veio a pandemia da COVID-19, os espaços culturais foram fechados e o efeito aglomerativo dos filmes, que já vinha minado pela ascensão das plataformas de streaming que tanto valorizam o “estar em casa”, se perdeu - por enquanto.

Mas o cinema nunca foi uma arte “pura”. Ele sempre encontrou pontos de diálogo com a literatura, o teatro, posteriormente o vídeo e as tecnologias digitais. Ao longo de cinco dias da 14a CineBH - Mostra de Cinema de Belo Horizonte, o hibridismo se tornou ainda mais evidente e a força das imagens se amplificou no efeito entre a presença do “ao vivo” à distância e o registro mais tradicional de um filme como forma acabada e trabalhada na linguagem. Sob o tema “Arte Viva: Redes em Expansão”, a Mostra reuniu pesquisadores, críticos e artistas de várias áreas dentro de uma mesma linha de pensamento: como o audiovisual pode ser o caminho mais bem trabalhado para a permanência expressiva das artes presencias num contexto em que ambientes de aglomeração estão impossibilitados de funcionar?

Em debates, rodas de conversa ou trabalhos exibidos na programação, as questões apareceram constantemente. Na seleção curatorial, videoperformances como “Canção das Filhas das Águas”, de Laís Machado, conviveram com filmes como “Luz nos Trópicos”, de Paula Gaitán, e encenações transmitidas ao vivo, casos de “12 Pessoas com Raiva”, de Juracy de Oliveira, e “Museu dos Meninos - Arqueologias do Futuro”, de Maurício Lima - estes dois últimos sendo iniciativas da Pandêmica Coletivo Temporário de Criação, destaque escolhido esse ano pela CineBH.

“Na Pandêmica, a cada vez que a gente fala ‘temporário’ nós somos lembrados de que essa situação em que estamos vai acabar”, disse Juracy de Oliveira, em referência ao nome do coletivo formado em março por artistas de várias regiões do Brasil com objetivo de organizarem apresentações teatrais on line. O atravessamento entre a presença e o registro em imagem e som não é exatamente algo novo na história das duas artes, conforme apontou a curadora convidada Daniele Ávila Small, mas ganhou novos contornos em 2020 pela transmissão maciça de audiovisual e a onipresença das plataformas e dispositivos eletrônicos.

A questão dos “gadgets” apareceu várias vezes ao longo da CineBH - o que não podia ser diferente, considerando que a programação do próprio festival foi toda on line, inclusive debates e “lives” acompanhados das instabilidade típicas de um tempo devedor de boas conexões de internet. Para a crítica Luciana Romagnolli, esse estado se caracteriza dentro do conceito intitulado tecnovívio, desenvolvido por estudiosos como o argentino Jorge Dubatti. “O uso dos aparelhos e das plataformas de comunicação virtual são formas de experienciar a presença em meio ao distanciamento social, mas isso não deve ser naturalizado, como se o clique substituísse o toque. Em se tratando do teatro presencial, a pressão de um corpo sobre o outro é uma espécie de ameaça, e às vezes ela se concretiza, e é isso que o singulariza”, disse ela.

Algo também apontado por Luciana é o fato de que os dispositivos e mídias sociais, antes mais ocasionais, agora se tornaram parte constante de quaisquer relações, de trabalho ou pessoais, enquanto a interrupção dos encontros é a melhor forma de conter a pandemia. “O que vemos é mais do que uma aproximação entre teatro e cinema: é a interferência estética dos meios eletrônicos nos trabalhos artísticos”.

O que disse Luciana reverberou na fala de Maurício Lima, diretor de “Museu dos Meninos”, ao ponderar que a velha questão sobre o teatro sobreviver é ultrapassada, já que se trata de uma arte que sempre venceu os obstáculos que a história lhe impôs. O que deve ser objeto de atenção, para Maurício, é como os artistas vão se manter dentro de uma nova realidade que parece aflorar com velocidade cada vez mais intensa, ao mesmo tempo em que o campo cultural é tão atacado e pouco valorizado especialmente agora. “Como eu, artista, terei condições de me relacionar com o teatro como ofício, como sustento, a partir do que está acontecendo? A pandemia abriu o precedente de um projeto de desmonte cultural que a gente vive faz muito tempo. Vimos que é possível fazer teatro na pandemia, então como vamos criar métodos que preservem esse teatro e esses artistas?”, questionou.

Os impasses culturais afetam também a produção de cinema em suas várias frentes. Produção, distribuição e exibição sofreram baques inéditos a partir do distanciamento social e do fechamento das salas. O setor ainda busca alternativas para um “novo normal” que já nem parece mais tão novo, tamanho a velocidade com que ele vem se apresentando.

Para Guilherme Fiúza, presidente do Sindav-MG (Sindicato da Indústria Audiovisual de Minas Gerais), é urgente que o poder público entenda que a economia do cinema faz circular bilhões de reais ao ano, em gastos diretos, indiretos e no recolhimento de impostos. Não faz sentido, portanto, segundo dele, essa economia ser tratada por qualquer viés ideológico. “São 13 mil produtoras atuando em todo o território nacional, investindo dinheiro e, em boa parte dos casos, utilizando verbas de financiamento a partir de impostos advindos do próprio setor”, frisou Guilherme. “A nossa economia (do cinema) é uma economia limpa e criativa, com possibilidades de replicação sem limites. Ela não polui rios, ela não deixa lixo, ela não tem barragem, ela não mata ninguém”.

É por acreditar nessa economia criativa do cinema que, durante a CineBH, aconteceram os encontros do Brasil CineMundi, programa dedicado ao fomento, aos negócios do audiovisual e ao estímulo às coproduções. O fato de ter esta 11a edição em formato virtual não diminuiu o interesse e a gana de produtores em participarem de orientações, encaminhamentos e trocas das mais variadas com profissionais do mundo todo. Foram dezenas de encontros para afinar quase 30 projetos nas categorias de desenvolvimento, finalização e distribuição. Mesmo um filme como “Meu Nome É Bagdá”, de Caru Alves de Souza, cuja circulação foi interrompida pela pandemia logo depois de ser premiado no Festival de Berlim, teve algumas perspectivas apresentadas no evento, mostrando que, reinventando-se, a circulação do cinema brasileiro ainda tem muito o que inovar.

Entre tantas telas, afinal, haverá sempre o estímulo proporcionado pelas artes. A presença é fundamental a todas elas, das salas lotadas de cinema às plateias cheias dos teatros, de artistas que se encontram para ensaios e filmagens a profissionais que olham cara a cara na ânsia por apresentarem seus projetos. A pandemia vai passar, a arte vai sobreviver e o audiovisual seguirá entre nós, talvez ainda mais rico por se perceber essencial a tantas expressões criativas que incansavelmente nos provocam e nos encantam.

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