Colunistas - Rodolfo Bonventti

Uma novela em que os autores não se entenderam e a produção não rendeu no ar

2 de Março de 2021

Foi “Partido Alto”, escrita a quatro mãos por Aguinaldo Silva e Glória Perez. A dupla de autores surgiu por ideia da direção da emissora, entenda-se aqui Boni e Daniel Filho, e eles nem se conheciam pessoalmente, o que prejudicou o trabalho dos dois na escrita e condução das várias tramas que foram criadas para a montagem da novela.

Guilherme Karan e Susana Vieira

Por volta da metade da trama, Aguinaldo Silva se afastou para adaptar uma nova minissérie baseada em livro de Jorge Amado, e Gloria Perez conduziu a trama até o final. Com direção de Roberto Talma, Jayme Monjardim, Carlos Magalhães e Luiz Antonio Piá, e uma abertura com grupos de dançarinos de samba e de breakdance criada especialmente por Hans Donner, a novela “Partido Alto” tinha um elenco estelar, mas nem esse detalhe salvou a produção de não deixar saudades nos telespectadores.

Além dos problemas com os autores, a novela também sofreu com a censura, já que era ainda 1984, e ela falava de contravenção, jogo do bicho, roubos, assassinatos, um homem que mantinha duas famílias e privilegiava a amante e um guru que aplicava golpes nos seus clientes.

Era a história da filha de um rico industrial, Isadora, que terminava um casamento com um alto executivo e se apaixonava por um professor universitário, Mauricio, acusado de um crime. Isadora, por sua vez, foi criada pelo pai que nunca lhe revelou quem era a sua verdadeira mãe. Já o professor universitário é assediado também pelo jovem filha de um bicheiro influente, Célio Cruz, que divide seu tempo entre a esposa e os filhos; uma amante conhecida por todos e com quem tem um filho, Jussara, e a escola de samba que ele comanda, a Unidos do Encantado.

O subúrbio do Rio de Janeiro, pela primeira vez, graças a Gloria Perez, se tornou um cenário importante na trama de uma novela das 20 horas na TV Globo. E surgiram também personagens diferentes e divertidos como o esposo submisso que não dizia uma palavra e obedecia fielmente a esposa; o falso guru que explorava seus clientes e o funkeiro Mr. Soul.

Mas as muitas tramas criadas não se encaixaram como deviam e algumas não tiveram a devida conclusão nos seus mais de 170 capítulos levados ao ar.
Destaque no grandioso elenco de “Partido Alto” para Raul Cortez como o bicheiro Célio; Betty Faria como a porta-estandarte Jussara; Cláudio Marzo como o professor Mauricio; Lilian Lemmertz como Nanci; Rubens Correa como o rico industrial Amoedo; Marilu Bueno vivendo Sulamita; Guilherme Karan como o guru Políbio e Arnaud Rodrigues que interpretava o funkeiro Mr. Soul.

Marilu Bueno e Lilian Lemmertz

A novela tornou conhecido do grande público o break, um estilo de dança de rua, parte da cultura do hip hop, e marcou a estréia em novelas dos jovens atores Guilherme Karan, Roberto Bataglin e Carla Daniel.

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