Colaboradores - Valéria Calente

Transplante de órgãos no Brasil

30 de Agosto de 2023

A necessidade do apresentador Faustão de passar por uma cirurgia de emergência após agravamento do caso de insuficiência cardíaca trouxe à tona um assunto muito importante: como funciona a lista de transplante de órgãos do Sistema Único de Saúde?

Muitos se perguntam por que o Faustão conseguiu um coração novo tão rápido e se ele furou a fila do transplante. Não acredito.

Apesar de a lista, veja lista e não fila – Sistema Nacional de Transplantes ou SNT, funcionar por ordem cronológica de cadastro, ou seja, por ordem de chegada, também é necessário levar em conta outros pontos na hora do transplante de órgãos, como a gravidade do quadro, o tipo sanguíneo, o porte físico do paciente, a distância geográfica e até mesmo casos de recurso do órgão pelos pacientes que estão na fila.

Por isso, o fato de um paciente estar na fila há mais tempo não significa que receberá o transplante primeiro que um outro que acaba de entrar, se o estado de saude do segundo for mais grave.

O Brasil possui o maior programa público de transplante de órgãos, tecidos e células do mundo, mas o grande volume de procedimentos faz com que a quantidade de pessoas ainda precise passar por uma lista de espera.

Todos os candidatos a receber um órgão entram nesta mesma fila, não importa se serão operados em hospital público ou no Albert Einstein, como foi o caso do apresentador.

Em 2022, de acordo com o Sistema Nacional de Transplantes (SNT), o país realizou mais de 22 mil transplantes.

Apenas a equipe médica pode adicionar o paciente no Cadastro Técnico Único – o nome “oficial” dessa fila. Lá os profissionais descrevem o quadro de saúde do paciente, o que irá definir sua prioridade.

Pacientes cujo coração parou e estão com circulação extracorpórea passam a ser prioridade absoluta.

A Central de Transplantes do Estado de São Paulo explicou que Faustão ocupava o segundo lugar na fila de espera por um coração e a seleção gerada para a oferta do coração deste receptor, através do sistema informatizado de gerenciamento do sistema estadual de transplantes, trouxe 12 pacientes que atendiam aos requisitos. Destes, quatro estavam priorizados, sendo que o apresentador ocupava a segunda posição nesta seleção.

Ainda, segundo a Central de Transplantes, a equipe transplantadora do paciente que ocupava a primeira posição decidiu pela recusa do órgão e, desta forma, a oferta seguiu para o segundo paciente, que era o apresentador.

Recusas podem acontecer por potenciais incompatibilidade entre receptor e doador, inclusive no que diz respeito à compleição física.

Segundo informações divulgadas pelo Ministério da Saúde entre os dias 19 e 26 de agosto - ou seja, antes da operação de Faustão -, 11 pessoas passaram por transplantes de coração no país, sendo que sete foram em São Paulo, estado que concentra o maior número de transplantes no Brasil.

Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, em 2023, a espera por transplante de coração foi menor que 30 dias para 27,5% dos pacientes.

No Brasil, de 1º janeiro até 27 de agosto deste ano, o tempo de espera para transplante de coração foi menor do que 30 dias para 72 dos pacientes na lista - o equivalente a 27,5% do total de pessoas transplantadas.

O novo coração de Faustão saiu de Santos, e o doador era um jovem de 35 anos, morador da cidade.

O Brasil o transplante de órgãos e tecidos é regulamentado Lei 9.434/97, que sofreu atualização em setembro de 2019, e dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e outras providências.

Todos os transplantes são realizados por equipes que fazem tanto a parte da captação quanto a da extração. Tem também um grupo que cuida somente da etapa anterior à captação, ou seja, prepara o paciente que teve morte encefálica, que pode doar fígado, rins, pulmões, pâncreas, coração, intestino delgado e tecidos.

Os dados do doador são passados para o sistema, que é informatizado e então é feito um ‘match’, ou seja, uma busca para ligar o doador a possíveis receptores compatíveis. Isso funciona para todos os órgãos. Não existe mão humana, ou seja, o computador já faz o ranking de quem pode receber o órgão.

Quando a equipe cirurgiã inclui o receptor na lista, são inseridos dados e características, mas não o nome.

A Central de Transplantes do Estado de São Paulo acrescenta que pacientes que necessitam de transplante de órgãos são inseridos no Cadastro Técnico do Sistema Estadual de Transplantes de São Paulo, ou seja, na fila para o transplante na especialidade necessária.

A inscrição e a manutenção dos dados cadastrais no sistema são de responsabilidade da equipe de transplante. A gestão desse cadastro técnico, bem como a distribuição de órgãos, é realizada pelo Sistema Estadual de Transplantes em conjunto com o SNT, órgão nacional, e depende de fatores como disponibilidade do órgão por meio do processo de doação, ordem cronológica, condições clínicas, gravidade do caso e disponibilidade ou não de tratamentos alternativos, com prioridade aos casos de urgência em que há risco de morte.

Os principais critérios para definir a ordem na lista de transplantes:

(a) Compatibilidade sanguínea: um receptor do grupo sanguíneo B, por exemplo, pode receber órgãos de um doador do grupo sanguíneo B ou O, enquanto receptores AB podem receber de doadores AB, B e O.

(b) Gravidade: há critérios de priorização, definidos por lei, em que potenciais receptores que possuem risco iminente de morte são elevados em sua posição no cadastro técnico (fila de espera).

(c) Critérios antropométricos: a equipe transplantadora define uma faixa de peso e altura para os doadores ofertados para cada receptor.

(d) Velocidade: o ideal é que, depois de retirados do doador, o coração e o pulmão sejam transplantados em até 4 horas; o fígado em até 6 horas; o pâncreas em 12 horas; o rim em 24 horas; e as córneas, em até 10 dias.

Outros pontos devem ser considerados, por exemplo, cada órgão tem seus critérios de gravidade.

No caso do Faustão, por exemplo, ele não poderia receber um coração de criança ou de um jovem que pesa 30 quilos, da mesma maneira, não é possível colocar o coração de um doador de 70 quilos em um receptor de 40 quilos.

Espero ter colaborado com o entendimento desse assunto que está dominando as mídias esta semana.

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