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Dafne Araujo: a jovem geógrafa indígena que une território e inovação

20 de Maio de 2025

Antes dos 30, a geógrafa guajajara já conquistou prêmios internacionais, atuou em grandes desastres ambientais e hoje desenvolve geotecnologia no Canadá

Foto: Divulgação

Seja para pedir um carro por aplicativo ou encontrar o caminho mais rápido no celular, os mapas digitais fazem parte da rotina de milhões de pessoas — por trás dessas tecnologias está o trabalho de profissionais como Dafne Araujo, uma jovem Guajajara que vem ganhando destaque internacional na área.

Nascida e criada em Marechal Hermes, zona norte do Rio de Janeiro, Dafne Araujo cresceu em uma casa onde estudar era o maior projeto de futuro. Filha de um operário maranhense e de uma professora de matemática da Ilha do Governador, ela carrega nas raízes a força do povo Guajajara e uma história marcada por trabalho duro e persistência.

Seu bisavô viveu de perto os conflitos da Revolta do Alto Alegre, no Maranhão, em 1901. O avô, Arão, circulava entre aldeias levando saberes. Já o pai, mais velho de dez irmãos, construiu a casa da família com as próprias mãos e ajudou a abrir caminho para a BR-226. Migrou para o Rio de Janeiro nos anos 1970, atraído pelas promessas da industrialização. Com um sonho interrompido de ser engenheiro, viu nos estudos da filha a possibilidade de um recomeço.

Dafne não decepcionou. Pulou o jardim de infância, fez vestibular com 15 anos e aos 17 já estava matriculada na Universidade Federal Fluminense, no curso de Geografia. A curiosidade por mapas começou cedo, ainda criança, observando a sala dos professores onde a mãe trabalhava. Foi ali que descobriu a beleza das linhas, escalas e territórios.

Foto: Divulgação

Logo no segundo ano da graduação, foi convidada a  estudar na Alemanha, na Universidade de Hamburgo. Durante um ano, se dedicou à área de geotecnologia (GIS), a base de tecnologias como Google Maps e Waze. Lá também estagiou em uma empresa especializada em imagens de satélite aplicadas à agricultura.

De volta ao Brasil, passou pelo INEA (Instituto Estadual do Ambiente), onde integrou a equipe do projeto "Olho no Verde", responsável por monitorar queimadas e irregularidades em parques estaduais com imagens de alta resolução. Ainda recém-formada, foi contratada pela consultoria EnvironPact. Em pouco mais de cinco anos, saiu de trainee para analista sênior.

Participou de mais de 30 projetos na indústria de óleo e gás para grandes empresas como Petrobras, Shell, ExxonMobil e Equinor, liderando a criação de mapas interativos e sistemas automatizados. Também atuou diretamente nas análises espaciais de impacto ambiental nos desastres de Mariana e Brumadinho.

Entre os projetos de destaque está o MAREM, uma plataforma que desenvolveu para auxiliar a indústria na resposta a emergências ambientais na costa brasileira. Seu trabalho foi premiado duas vezes pela ESRI, empresa referência mundial em inteligência geográfica.

Na mesma época, concluiu uma pós-graduação em Geologia no Museu Nacional (UFRJ) e cursou o mestrado em Geografia na UFRJ, conciliando tudo com a rotina profissional. Durante a pandemia, apresentou projetos em conferências, buscou novas oportunidades e foi aprovada em dois doutorados. Optou por trilhar novos rumos no Canadá, onde recebeu bolsa pela University of Calgary, para aprofundar sua pesquisa sobre a indústria de petróleo e gás e abrir novas possibilidades para sua carreira e família.

Hoje, Dafne vive em Calgary, onde trabalha, pesquisa, publica, dá palestras e participa de congressos. Fala português, inglês, espanhol, alemão — e está aprendendo francês. Mais do que currículo, carrega uma visão de mundo que une ancestralidade e tecnologia.

Foto: Divulgação

Ser indígena e cientista não são caminhos opostos. São formas complementares de olhar o mundo. A tecnologia que uso hoje conversa com aquilo que meu povo sempre fez: observar o território com atenção e respeito”, afirma.

Seu caminho, que muitos julgariam improvável, hoje inspira meninas indígenas, jovens periféricos e estudantes das geociências a enxergarem possibilidades em lugares antes invisíveis.

Do Maranhão ao Canadá, Dafne segue traçando seu percurso com precisão, pesquisa e escuta. Em cada mapa que constrói, deixa um pouco da sua história — e amplia os horizontes da ciência brasileira.

Para conhecer mais sobre seu trabalho, acesse o LinkedIn, o Lattes ou siga no Instagram @dafne_araujo.

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