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Fisioterapia Respiratória Pediátrica e Neonatal, especialidades que salvam vidas

1 de Agosto de 2023

Doenças como bronquiolite, asma e infecções respiratórias agudas são comuns neste período. No entanto, especialistas alertam que o número de fisioterapeutas preparados para lidar com essas condições ainda está muito abaixo da necessidade, especialmente fora dos grandes centros urbanos.

Aline Lacerda
Foto: Divulgação

A fisioterapia respiratória pediátrica é uma área altamente técnica, dedicada ao suporte ventilatório, prevenção de complicações pulmonares e reabilitação funcional de crianças com quadros agudos ou crônicos. Apesar de seu impacto direto na redução de hospitalizações e reinternações, a especialidade segue praticamente invisível nas grades curriculares da graduação em fisioterapia e pouco contemplada nas políticas públicas de saúde.

“É uma área em expansão, mas com formação ainda restrita. Muitos fisioterapeutas sequer tiveram contato real com o raciocínio clínico específico da fisioterapia respiratória pediátrica durante a faculdade”, afirma Aline Lacerda, fisioterapeuta com atuação em serviços de referência e membro de comissões avaliadoras acadêmicas e profissionais.

Interesse crescente, formação insuficiente

Docente em programas de pós-graduação e examinadora de títulos de especialista, Lacerda tem observado um aumento no interesse de fisioterapeutas pela área, embora a formação técnica especializada ainda seja exceção.

“Nos cursos e bancas dos quais participo, vejo fisioterapeutas de diversas regiões do Brasil buscando se aprofundar. Mas ainda há um descompasso enorme entre a complexidade dos casos e a formação oferecida”, pontua.

Com passagem por hospitais como o Israelita Albert Einstein e o Nossa Senhora de Lourdes, além de experiência internacional no BC Children’s Hospital, no Canadá, Aline Lacerda defende a necessidade urgente de disseminar práticas baseadas em evidências clínicas para além dos grandes centros.

Ciência comprovada, aplicação negligenciada

Pesquisas recentes demonstram que, quando aplicada com critério técnico e avaliação individualizada, a fisioterapia respiratória pediátrica é capaz de reduzir complicações, tempo de internação e a reincidência de hospitalizações. No entanto, a realidade em muitas regiões do Brasil ainda é de protocolos defasados, baixa integração com equipes multiprofissionais e ausência de abordagem personalizada.

“Criança com bronquiolite não é tudo igual. Algumas evoluem bem sem intervenção, outras precisam de suporte ventilatório e fisioterapia criteriosa. Saber distinguir isso exige preparo, leitura da literatura e prática supervisionada”, alerta Lacerda.

O tempo urge — e 2024 não pode esperar

Diante do agravamento dos quadros respiratórios nas últimas semanas de 2023 e da previsão de novos surtos sazonais, a mensagem é clara: sem fisioterapeutas qualificados, o sistema continuará combatendo sintomas, e não as causas.

A demanda existe. Os protocolos também. O que falta, segundo os especialistas, é ampliar o acesso à formação continuada, criar redes de apoio clínico e reconhecer a fisioterapia respiratória pediátrica como parte estratégica da atenção primária, secundária e domiciliar.

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Quem é Aline Lacerda

Com trajetória clínica e acadêmica desde 2010, Aline Lacerda é especialista em Fisioterapia Respiratória Pediátrica e Neonatal pelo Hospital Nossa Senhora de Lourdes, em São Paulo. Atuou em instituições de alta complexidade, como o Hospital Israelita Albert Einstein, e participou de programas de desenvolvimento clínico no BC Children’s Hospital, no Canadá. Atualmente, é assistente de ensino na Harvard T.H. Chan School of Public Health, no programa de Educação Executiva e Continuada. Membro da Assobrafir, integra bancas examinadoras de especialização e certificação profissional. Sua atuação técnica e formadora a posiciona como uma das vozes mais respeitadas da fisioterapia respiratória no Brasil.

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