Colaboradores - Tânia Voss

Patricia Marx em nova fase

29 de Novembro de 2018

Patricia Marques de Azevedo, mais conhecida como Patricia Marx, é uma cantora brasileira que ficou nacionalmente conhecida, aos 8 anos de idade, no programa Clube da Criança, ao lado de Xuxa, e integrou o grupo infantil “Trem da Alegria”. Em 1987, Patricia deixou o grupo e iniciou uma bem sucedida carreira solo com a música “Festa do Amor”. Emplacando um sucesso atrás do outro como “Te Cuida Meu Bem”, “Sonho de Amor”, “Certo ou Errado” e “Destino”, Patricia Marx vendeu mais de 3 milhões de discos. Com o produtor Nelson Motta gravou 3 discos que lhe renderam vários prêmios da indústria e discos de ouro, com destaque para as canções “Quando Chove”, “Espelhos d’Água, “Ficar com Você” e “Me Liga”. Morou em Londres, fez várias turnês pela Europa e Japão e teve seus álbuns “Respirar” e “Nu Soul”, ambos lançados pela gravadora Trama, editados em vários países do mundo.

 Já foi citada inúmeras vezes como uma das vozes mais bonitas do Brasil, inclusive por nomes internacionais como Jamie Cullum e pela revista DJ MAG, comparando-a com as cantoras Eykah Badu e Jill Scott. Em 2013, já contratada da gravadora LAB 344, regravou a canção “Espelhos d’Água”, com a participação de Seu Jorge, que rendeu um videoclipe gravado em estúdio que já contabiliza milhões de visualizações. A música ficou em primeiro lugar em várias rádios brasileiras e foi o carro-chefe do álbum e DVD “Trinta”, em comemoração aos seus 30 anos de carreira. O álbum, que também foi lançado no exterior, trouxe também a participação de Ed Motta, na inédita “Tudo o Que Eu Quero”.

Patricia Marx voa alto e nos conduz para outros planos ao longo de 14 faixas inéditas reunidas sob o título “Nova” (LAB 344). Intacta em sua essência, ela aposta na delicadeza e no risco, com a segurança de quem já vendeu mais de 3 milhões de discos e já recebeu os maiores elogios de alguns dos mais exigentes ouvidos do Brasil e do mundo. 

Patricia parte da mântrica intro “Supernova” e cruza mundos de delicadeza e groove até desaguar, ao fim da jornada, em “Lá no Espaço”, belíssimo acalanto que resume, em voz e piano, a aventura aural do disco. “Um oceano de melodias/ Vou sobre as águas claras/ Ao sabor do sol”, diz a letra, escrita por ela mesma com o baixista Jorge Ailton.

 As órbitas sonoras de Patricia Marx também não mudaram. Ela chega ao 13º álbum solo de estúdio fiel às paixões que a movem desde o começo deste milênio: o estilo neo-soul – ou “nu soul”, que deu título ao disco que a cantora lançou em 2004 – de artistas como Maxwell e Jill Scott, de balanços manhosos, acordes menores e vastas emoções expressas com sutileza. A sexy “You Showed Me How”, primeiro single, parte dessa estética, com direito a uma “outro” (o oposto de “intro”) em que o piano de Herbert Medeiros deixa às claras a sinergia e a cumplicidade que rolaram em estúdio.

O paulistano Herbert, ex-garoto prodígio com formação nos rigores do meio gospel, é coprodutor e coautor de dez faixas do disco, junto com Patricia, e assina uma delas sozinho, a vinheta “estendida” “You? (Sobre ser uma Monja)”. Patricia não abre mão do talento dele – apreciado também por Ed Motta, pelo grupo inglês de acid jazz Incognito e pelos melhores cultores nacionais daquilo que aqui é conhecido como “black music”. “É um cara sofisticado, extremamente musical. E já sabe tudo que eu gosto, as referências todas. É incrível a química que temos, eu, ele e Robinho (Tavares, baixista e coautor em duas músicas)”, observa.

Nas sessões no Hataka Studios, no Jaguaré, em São Paulo, jams informais rapidamente deram origem a canções. A já citada “You Showed Me How” e “Don’t Break My Heart”, com cara de hit instantâneo, foram as primeiras.  As duas têm letras em inglês, cortesia de outro antigo colaborador de Patricia: M. Clair, o Marc Mac do grupo londrino 4hero, que ganhou projeção durante a febre drum’n’bass e trip hop/downtempo no fim do milênio passado. “Don’t Break My Heart” aponta para as pistas de dança, com o rap do francês Lou Piensa e o groove disco do contrabaixo colaborando para a receita vencedora.

 Na alternância de climas proposta pela ordem das faixas, vêm em seguida “LaLaLa (Studio Session)”, doce vocalise sobre uma base R&B lânguida sem ser vulgar, e uma balada acústica que não faria feio no portfólio de Maxwell. Concisa, com pouco mais de três minutos, “Faz” foi presente de André Mota, (da banda paulistana Maloka Chic), chegado de Herbert Medeiros, e é dica preciosa para playlists pop. “Deixa Rolar”, com um sabor retrô nos timbres, também é de autoria de André, e faz bonito se tocado entre um hit da Sade e outro da Erikah Badu.

“Saturn Capricorn Love Sex” é uma jam midtempo de alta voltagem sensual que abre espaço para Patricia mostrar facetas menos exploradas - em inglês cantado, sussurrado ou arfado, mas sempre com borogodó. A sofisticada “Dentro em seu Lugar” tem participação do produtor americano Paul Pesco, que toca também baixo acústico e teclados. Foi uma escolha menos pop do que poderia se prever, mas dentro do alto padrão de Pesco, que foi diretor musical da banda de Daryl Hall & John Oates e tocou com Madonna, Steve Winwood, Miguel e Mary J Blige, entre outros.

Nos 95 segundos de “Crystal 528Hz”, Patricia, adepta da meditação, explora a frequência reputada com poderes de cura e regeneração (a partir do impacto físico das ondas sonoras). Mais adiante, na vinheta “Cathedral”, ela solfeja melodias de temas eruditos, com efeito semelhante. São dois “respiros” inspiradores entre a linda balada “Luz numa Lágrima”, parceria dela com Herbert (onde ficam evidentes as influências gospel do pianista), letra cortesia do velho amigo Jair Oliveira. Escolhida para ser o segundo single do disco, é uma melodia sob medida para Patricia exibir seus encantos.

O nome desta coleção de canções, “Nova”, ela explica, tem a ver com o ciclo de uma estrela: nascimento, explosão, impermanência... Concepções cósmicas e budistas à parte, é revigorante ouvir, reluzente em meio a um material de tanta qualidade, joia do quilate de “Dança do Tempo”. Patricia e Herbert escreveram uma bossa à altura do melhor da tradição - e acima de qualquer zeitgeist ruim vigente. Quem ouve aquele piano, aquele violão (de Marquinhos Amaral) e as coisas que Patricia faz com a voz ali acredita em tudo da letra, assinada com Jorge Ailton: “A vida é boa demais/ (...) Esse samba que chega inspirando (...)/ E devolve e traz/ Um Brasil em paz”. É coragem em forma de música chegando no momento preciso.

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