Cultura - Educação

Herdeiro de Saramago debate em mesa sobre a crise econômica retratada na literatura

7 de Outubro de 2014

 

Os resquícios da crise econômica que fragiliza os países de Primeiro Mundo e freia o crescimento das nações emergentes há algum tempo vem sendo manifestados pela literatura nos quatro cantos do planeta. E, essa perspectiva registrada nos livros sobre o panorama financeiro, resulta nas discussões da mesa Recessos e Inspirações, com o herdeiro cultural do saudoso José Saramago, o angolano Gonçalo M. Tavares, e a autora baiana Mariana Paiva. A mediação fica por conta do também escritor e jornalista Tom Correia. O encontro gratuito, assim como toda a programação da Flica 2014, será realizado na sexta-feira, 31, às 10h, no Claustro do Conjunto do Carmo, no centro de Cachoeira.

Gonçalo ganhou a fama de arrebatar o Prêmio José Saramago com um discurso eloquente do próprio autor ao lhe entregar o troféu pela obra Jerusalém em 2005: “Ele não tem o direito de escrever tão bem apenas aos 35 anos: dá vontade de lhe bater!”. A partir daí, o consagrado escritor que se declara “iluminador de palavras” fez peças, poesias, enciclopédias, epopéias e até um atlas, destacando-se com os livros O Senhor Válery e Investigações. Novalis, tendo suas obras traduzidas em mais de 30 línguas para 46 países.

Não por acaso um de seus livros serviu como referência para dar origem à mesa de discussão. Em Matteo perdeu o emprego, ficção dividida em duas partes, o autor narra primeiro contos absurdos e caricatos de personagens em uma Europa Ibérica cinzenta, sem esperanças e com uma cultura tão plural e fragmentada que incita até a xenofobia. E então, guarda um ensaio metalinguístico, pois discute sobre a própria obra.

“A Flica propõe uma relação entre crises econômicas e existenciais com a literatura, o elemento inspirador da depressão coletiva refletida na dura realidade do indivíduo, incapaz de realizar sua cota parte no mundo”, explica um dos curadores da Festa, Aurélio Schommer. Do outro lado, distante da realidade citada na ficção do escritor, a autora baiana Mariana Paiva vem para “estabelecer as pontes possíveis entre essa ‘literatura da recessão’ e a realidade brasileira, em que um otimismo atávico nega a morte, as mazelas, a crítica, os recessos, em que ‘ver o lado bom’ é obrigatório, especialmente na Bahia”, completa.

Neste encontro de extremos ao mesmo tempo semelhantes, o público poderá dialogar sobre a pluralidade de percepções e naturezas, ainda que humanas, a falta de esperanças da Velha Europa – tão almejada por muitos – e a efervescência inata do Brasil tropical, bem representada pela jornalista e Mestre em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia. Em seu livro de estreia, Barroca, Mariana o fez em minicrônicas de tom bastante lírico. Neste ano, foi a vez de publicar um volume de poemas: Lavanda, que saiu pela coleção Poiese, da editora baiana Kalango. Em breve, ela se lança em duas outras publicações: a biografia do poeta Damário Dacruz e o livro de microcontos Canto da Rua.

 
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